sábado, 12 de novembro de 2011

Os ensinamentos de Don Juan

Obras do Carlos Castaneda:

- A Erva do Diabo
- Uma Estranha Realidade
- Viagem a Ixtlan
- Porta para o Infinito
- O Segundo Círculo do Poder
- O Presente da Águia
- O Fogo Interior
- O Poder do Silêncio
- A Arte do Sonhar
- O Lado Ativo do Infinito
- Passes Mágicos
- A Roda do Tempo
- Conversando com Carlos Castaneda

Resumo dos ensinamentos de Dom Juan:

Um guia é chamado o nagual, e o nagual é um homem ou uma mulher com energia extraordinária, um professor que tem sobriedade, resistência, estabilidade. Por causa da extraordinária energia, os naguais são intermediários. Sua energia permite-lhes canalizar paz, harmonia, alegria e conhecimento diretamente da fonte, do intento, e transmiti-los a seus companheiros. Os naguais são responsáveis por proporcionar ‘a oportunidade mínima’: a consciência da conexão do indivíduo com o intento.
Nagual é um termo genérico que se aplica a um feiticeiro de cada geração que possui uma configuração energética específica que o diferencia dos demais. Não em termos de superioridade ou inferioridade, ou nada do gênero, mas em termos de capacidade de ser responsável.
Só um nagual tem a capacidade energética de ser responsável pelo destino de seus companheiros. Cada um de seus companheiros sabe disso e aceita.
Desde o tempo do nagual Lujan, que viveu há cerca de 200 anos, há uma união conjunta de esforços, compartilhada por um homem e uma mulher. O homem nagual traz sobriedade; a mulher nagual traz inovação.
Ser um feiticeiro significa alcançar um nível de consciência que dá acesso a coisas inconcebíveis.
As ações dos feiticeiros existem exclusivamente no reino do abstrato, do impessoal. Os feiticeiros lutam para alcançar uma meta que nada tem a ver com as buscas do homem comum. As aspirações dos feiticeiros são alcançar o infinito, e ser conscientes dele.
O nagual é conhecedor da força que nos mantém como uma unidade coesa. O nagual pode fixar a sua atenção total, por uma fração de segundo, sobre essa força e paralisar a outra pessoa.
No nagual existe o vazio, um vazio que não reflete o mundo, mas o infinito.
No momento em que se cruza o umbral peculiar do infinito, seja deliberadamente ou involuntariamente, tudo o que se passa daí por diante já não está exclusivamente no domínio da própria pessoa, mas entra no reino do infinito.
Nossos passos foram guiados pelo infinito. As circunstâncias que parecem ser regidas pelo acaso são em essência guiadas pelo lado ativo do infinito: o intento.
O que nos reúne é o intento do infinito.
Para os feiticeiros não há ponderação, espanto ou especulação. Sabem que tudo o que têm é a possibilidade de unir-se com o intento do infinito e eles fazem exatamente isso.
Don Juan Matus, por um lado, era extremamente quieto e introspectivo; por outro, extremamente aberto e engraçado. Seu vazio refletia o infinito. Não havia agitação de sua parte, ou asserções sobre o eu. Não havia nem uma migalha de necessidade de ter ressentimentos ou remorsos. O seu vazio era o vazio do guerreiro-viajante, experiente ao ponto de não considerar nada como certo. Um guerreiro viajante que não subestima nem superestima nada. Um lutador sereno, disciplinado, cuja elegância é tão extrema que ninguém, não importa o quanto se esforce para ver, jamais encontrará a costura onde toda essa complexidade se reúne.
Os feiticeiros não guardam nada com eles. Esvaziarem-se dessa maneira é uma maneira de feiticeiro. Leva-os a abandonar a fortaleza do eu.
Atos maliciosos são executados por pessoas pelo ganho pessoal. Os feiticeiros, no entando, têm um propósito ulterior para seus atos, que nada tem a ver com ganho pessoal. O homem comum age apenas se há oportunidade de lucro. Os guerreiros dizem que agem não pelo lucro mas pelo espírito.

1- espreita
2- intento
3- mover o ponto de aglutinação

- a maestria da consciência
- a arte da espreita
- maestria do intento

A maestria da consciência é o enigma da mente; a perplexidade que os feiticeiros experimentam quando reconhecem o espantoso mistério e propósito da consciência e da percepção.
A arte da espreita é o enigma do coração. Espreitar é um procedimento muito simples. É comportamento especial que segue certos princípios. É um comportamento secreto, furtivo, enganoso, designado a provocar um choque. Quando você espreita a si mesmo, vc choca a si mesmo, usando seu próprio comportamento de um modo implacável e austucioso.
Um guerreiro espreita a si mesmo, implacavelmente, com esperteza, paciência e docilmente. Espreita é a arte de usar comportamento de maneiras novas para propósitos específicos.

A arte de espreitar
Os 4 passos: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura.
Implacabilidade não deveria ser rudeza, esperteza não deveria ser crueldade, paciência não deveria ser negligência e doçura não deveria ser tolice.
Seja implacável mas encantador.
Seja esperto mas simpático.
Seja paciente mas ativo.
Seja doce mas letal.
Não ceder ao medo mental ou físico.
No estado de consciência intensificada não desperdiçar energia com abstrações contemplativas. Mover os olhos em círculos quando algo prender sua atenção. Não olhar para o objeto da atenção.
Um guerreiro necessita de foco, ser preciso.
A consciência intensificada é como um trampolim. A partir deste um indivíduo pode saltar para o infinito.
Quando o ponto de aglutinação está desalojado, aloja-se outra vez numa posição muito próxima da costumeira ou continua movendo-se para o infinito.
Se continuamos com nosso comportamento desnecessário, podemos conseguir empurrar nosso ponto de aglutinação além de um certo ponto do qual não há regresso.
A egomania é um tirano real.
O comportamento humano normal no mundo da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à rotina causava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum era o que os feiticeiros buscavam, pq era cumulativo.
O conhecimento da morte é o que nos dá sobriedade. Sem uma visão clara da morte não há ordem, nem sobriedade, nem beleza, nem coragem. Coragem de ser atencioso sem ser vaidoso. Coragem de ser implacável sem ser convencido.
Espreitar a si mesmo para quebrar o poder de suas objeções. A vida é um processo pelo qual a morte nos desafia. A morte é a força ativa. A vida é a arena. Nessa arena há o próprio ser e a morte. Podemos nos elevar acima de todas as possibilidades e derrotarmos a morte.
Implacabilidade: o oposto de autopiedade.
A única maneira de pensar com clareza é não pensar de modo algum.
É possível parar de pensar intentando um movimento de seu ponto de aglutinação. O intento é chamado com os olhos. A implacabilidade é mostrada nos olhos dos feiticeiros, que são brilhantes. Quanto maior o brilho, tão mais implacável o feiticeiro. Quando o ponto de aglutinação se move para o lugar da não-piedade, os olhos começam a brilhar. Quanto mais firme o ponto de aglutinação em sua nova posição, tanto mais os olhos brilham. Os olhos são diretamente ligados ao intento.
Os olhos são conectados apenas superficialmente ao mundo da vida cotidiana. Sua conexão mais profunda é com o abstrato.
Os feiticeiros armazenam sua energia, o que significa uma conexão mais precisa, mais clara com o intento.
A guerra é um estado natural para um guerreiro, a paz uma anomalia. Mas a guerra para um guerreiro não significa atos de estupidez individual ou coletiva ou de violência sangrenta. A guerra, para um guerreiro, é uma luta total contra aquele eu individual que privou o homem de seu poder.
A auto-estima é a força gerada pela auto-imagem do homem. Essa força é que mantém o ponto de aglutinação fixo onde está no presente. O ataque do caminho dos guerreiros é voltado a destronar a auto-estima. E tudo que os feiticeiros fazem é na direção de realizar esse objetivo.
Os feiticeiros haviam desmascarado a auto-estima e descoberto que esta é a autopiedade disfarçada de alguma outra coisa.
A autopiedade é o inimigo real e a fonte da miséria do homem.
A consciência intensificada é o portal do intento.
A maior diferença entre o homem médio e um feiticeiro é que o feiticeiro comanda a morte com sua velocidade.
No mundo dos feiticeiros, a morte normal podia ser revogada, mas não a palavra do feiticeiro.
Através do conhecimento silencioso sabe-se do poder a ser obtido ao mover-se o ponto de aglutinação.
Com um movimento dos pontos de aglutinação pode-se manipular os sentimentos e mudar coisas. Isso chama-se intento.
Possivelmente qualquer ser humano sob condições normais de vida teve a oportunidade de livrar-se das amarras da convenção. Não me refiro à convenção social, mas àquelas que amarram nossa percepção. Um momento de sublimidade seria suficiente para mover nossos pontos de aglutinação e quebrar as convenções. Assim, também, o momento de pavor, doença, raiva ou tristeza. Mas ordinariamente, sempre que tínhamos a oportunidade de mover os pontos de aglutinação, ficávamos assustados. Nossa formação acadêmica, religiosa e social iria entrar em jogo. Iria assegurar retorno seguro ao rebanho, o retorno de nossos pontos de aglutinação à proposta prescrita da vida normal.
Para o movimento do ponto de aglutinação fazer sentido, é necessário ter energia para flutuar do lugar da razão para o lugar do conhecimento silencioso.
Intentar o movimento de seu ponto de aglutinação é uma realização, é algo pessoal. É necessária, mas não significa a parte importante. Não é o resíduo pelo qual os feiticeiros procuram. A idéia do abstrato, do espírito, é o único fator importante. A idéia do eu pessoal não tem valor algum. Não colocar a si mesmo e seus próprios sentimentos na frente.
Toda vez que tiver oportunidade, aja consciente da necessidade de abstrair. Abstrair significa fazer você mesmo disponível ao espírito, estando consciente dele.
Uma das coisas mais dramáticas a respeito da condição humana era a conexão macabra entre a estupidez e a auto-reflexão. Intento inflexivo é uma espécie de obstinação exibida pelos seres humanos; um propósito extremamente bem definido não controvertido por quaisquer interesses ou desejos conflitantes; também é a força engendrada quando o ponto de aglutinação se mantém fixo numa posição que não é usual.
O movimento do ponto de aglutinação era uma profunda mudança de posição, tão extrema que o ponto de aglutinação poderia mesmo alcançar outras faixas de energia no interior de nossa massa total luminosa. Cada faixa de energia representa um universo completamente diferente a ser percebido. Um deslocamento, entretanto, é um movimento pequeno no interior da faixa de campos de energia, que percebemos como um mundo da vida cotidiana.
Os feiticeiros viam o intento inflexivo como um catalisador para desencadear suas decisões imutáveis; ou como o inverso: suas decisões imutáveis eram o catalisador que propelia seus pontos de aglutinação a novas posições, as quais geravam o intento inflexivo.
Cada um de nós tem uma fissura energética, uma brecha energética abaixo do umbigo. Essa abertura, que os feiticeiros chamam de fenda, está fechada quando uma pessoa está no seu auge.
Silêncio interior é um estado especial de ser, em que pensamentos são cancelados e pode-se funcionar a partir de um outro nível que não o da consciência cotidiana. Significa a suspensão do diálogo interno – o eterno companheiro dos pensamentos. É um estado de profunda quietude. É um estado em que a percepção não depende dos sentidos. O que está funcionando durante o silêncio interior é outra faculdade que o homem tem, a faculdade que o torna um ser mágico, mas que foi restringida...
Atos para a busca do silêncio interior: pular em cachoeiras, passar noites dependurado de cabeça p/ baixo de um galho do alto de uma árvore.
O silêncio interior se acumula, aumenta.
O resultado desejado é o que os velhos feiticeiros chamam de ‘parar o mundo’, o momento em que tudo à nossa volta cessa de ser o que sempre foi. Este é o momento em que os feiticeiros voltam para a verdadeira natureza do homem. Os feiticeiros antigos também chamavam-no de liberdade total. É o momento em que o homem escravo torna-se um ser livre, capaz de feitos de percepção que desafiam a nossa imaginação linear. É o caminho que leva a uma verdadeira suspensão do julgamento – a um momento em que a informação sensorial que emana do universo em liberdade deixa de ser interpretada pelos sentidos; o momento em que a cognição cessa de ser a força que, através do uso e da repetição, decide a natureza do mundo.
Os feiticeiros precisam do ponto de ruptura para que o funcionamento do silêncio interior comece.
Esgotamentos nervosos são para as pessoas condescendentes com elas mesmas.
Não é possível continuar no caminho dos guerreiros levando sua história pessoal consigo.
Os feiticeiros só têm um ponto de referência: o infinito.
Um feiticeiro percebe suas ações com profundidade. Suas ações são tridimensionais para ele. Eles têm um 3º ponto de referência. Para atingir o 3º ponto de referência é preciso perceber 2 lugares ao mesmo tempo.
“o elo de conexão com o intento é o particular universal partilhado por tudo que existe.”
Estar em dois lugares ao mesmo tempo era um marco usado pelos feiticeiros para anotar o momento em que o ponto de aglutinação alcançava o lugar do conhecimento silencioso. Percepção dividida, se realizado por meios do próprio indivíduo, era chamado o movimento livre do ponto de aglutinação.
Protetor silencioso é uma onda de energia inexplicável que vem a um guerreiro quando nada mais funciona. Opções de feiticeiro são posições do ponto de aglutinação. Um número infinito de posições que o ponto de aglutinação pode alcançar. Em cada uma e em todas essas mudanças rasas e profundas, um feiticeiro pode reforçar sua nova continuidade. O efeito desses movimentos do ponto de aglutinação é cumulativo. (consciência intensificada)
“Não há liberdade sem a intervenção do nagual.” (Julian)
A luta dos feiticeiros pela certeza é a luta mais dramática que há. É dolorosa e cara. Muitas vezes custou realmente as vidas de feiticeiros.
Qualquer feiticeiro para ter completa certeza sobre seus atos, sobre sua posição no mundo dos feiticeiros, ou de ser capaz de utilizar com inteligência sua nova continuidade, deve invalidar a continuidade de sua antiga vida. Apenas então suas ações podem ter a necessária segurança para fortalecer e equilibrar a fragilidade e instabilidade de sua nova continuidade.
Os feiticeiros videntes dos tempos modernos chamam esse processo de invalidação do passaporte para a impecabilidade, ou a morte simbólica mas final dos feiticeiros.
Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de mim e dirigindo-se na direção da águia. Mas como eu havia recapitulado impecavelmente minha vida, a águia não me devorou a consciência. A águia cuspiu-me para fora. Porque meu corpo estava morto no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a liberdade. Era como se me dissesse para voltar e tentar outra vez.
Até o próprio momento da descida do espírito, qualquer um de nós poderia afastar-se do espírito, mas não depois.
O 4º cerne abstrato – ato de revelação.
Há uma passagem que uma vez cruzada não permite regresso.
Os feiticeiros nunca procuram por ninguém.
A passagem de um feiticeiro para a liberdade era sua morte.
O grande truque dos feiticeiros é estar consciente de que estão mortos. Seu passaporte para a impecabilidade deve estar envolto em consciência. Nessa consciência seu passaporte é mantido em estado de novo (por anos).
As explicações nunca são desperdiçadas, porque ficam expressas em nós para uso imediato ou posterior, ou para ajudar a preparar nosso caminho para alcançar o conhecimento silencioso.
O conhecimento silencioso é uma posição geral do ponto de aglutinação, que eras atrás havia sido a posição normal do homem, mas que por razões que seriam impossíveis de determinar, o ponto de aglutinação do homem moveu-se daquela localização específica e adotou uma nova, chamada ‘razão’. O lugar da ‘não-piedade’ era o predecessor do conhecimento silencioso. O lugar da ‘concernência’ era o predecessor da razão.
Quando o ponto de aglutinação está no lugar do conhecimento silencioso é porque a conexão com o espírito está muito clara.
Uma das diferenças mais dramáticas entre o homem civilizado e os feiticeiros era a maneira pela qual a morte chegava para eles. Apenas com feiticeiros guerreiros a morte era gentil e doce. A morte aguardava por tanto tempo quanto os feiticeiros necessitassem.
O problema dos feiticeiros é a impossibilidade de restaurar uma continuidade estilhaçada; e a impossibilidade tbm de usar a continuidade ditada pela nova posição de seus pontos de aglutinação, pois a nova continuidade é sempre tênue e instável demais, e não oferece aos feiticeiros a segurança que necessitam para funcionar como se estivessem no mundo da vida cotidiana.
A impecabilidade é tudo o que conta.
Um feiticeiro vive uma vida impecável, e isto parece atrair a solução para qualquer problema.
A impecabilidade não é moralidade. É simplesmente o melhor uso de nosso nível de energia. E isso exige frugalidade, simplicidade, inocência; e, acima de tudo, exige falta de auto-reflexão. Tudo isso a faz soar como um manual de vida monástica, mas não é.
Segundo os feiticeiros, para comandar o espírito, ou seja, comandar o movimento do ponto de aglutinação, o indivíduo necessita de energia. A única coisa que armazena energia para nós é nossa impecabilidade. Algumas vezes devido a circunstâncias naturais, embora dramáticas, tais como a guerra, as privações, o stress, a fadiga, a tristeza, a impotência, os pontos de aglutinação dos homens empreendem profundos movimentos.
Se os homens que se encontram em tais circunstâncias fossem capazes de adotar uma ideologia de feiticeiro, seriam capazes de maximizar aquele movimento natural sem problemas. E iriam procurar e encontrar coisas extraordinárias em vez de fazerem o que os homens fazem em tais circunstâncias: ansiarem pelo retorno à normalidade.
Quando o movimento do ponto de aglutinação é maximizado, tanto o homem comum quanto o aprendiz de feiticeiro se tornam um feiticeiro, porque, ao maximizar aquele movimento, a continuidade é desmantelada além da reparação.
Maximizamos o movimento do ponto de aglutinação inibindo a auto-reflexão. Mover o ponto de aglutinação ou quebrar a continuidade de um indivíduo não é a dificuldade real. O difícil é concentrar energia. Se o indivíduo tem energia, uma vez que o ponto de aglutinação se move, coisas inconcebíveis estão ali, bastando pedi-las.
A situação do homem é que ele intui seus recursos ocultos, mas não ousa usa-los. É por isso que os feiticeiros dizem que a luta do homem é o contraponto entre sua estupidez e sua ignorância. O homem necessita agora, mais do que nunca, que lhe ensinem novas idéias que tenham a ver exclusivamente com seu mundo interior – idéias de feiticeiros, idéias pertinentes ao homem encarando o desconhecido, encarando sua morte pessoal. Agora, mais do que nunca, ele necessita aprender os segredos do ponto de aglutinação.
O espírito é indefinível. Não se pode sequer senti-lo, muito menos falar a respeito. Pode-se apenas acenar para ele, reconhecendo sua existência.
O som e o significado das palavras são de suprema importância para os espreitadores. As palavras são usadas por eles como chaves para abrir tudo o que estiver fechado. Os espreitadores, portanto, tem de afirmar seu objetivo antes de tentar alcançar. Mas não pode revelar seu alvo verdadeiro no início, de modo que deve verbalizar as palavras com cuidado para esconder a intenção principal. Esse ato é o acordar do intento.
A posição do conhecimento silencioso é considerado o terceiro ponto porque para chegar a ele é preciso passar pelo segundo ponto, o lugar da não-piedade.
Quando o ponto de aglutinação adquire suficiente fluidez o indivíduo se duplica, o que o permite estar tanto no lugar do conhecimento silencioso quanto no da razão, seja alternadamente ou ao mesmo tempo.
Cada ser humano tem uma capacidade para essa fluidez. Para a maioria de nós, entretanto, está guardada e nunca a usamos, exceto nas raras ocasiões em que são provocadas pelos feiticeiros, como por dramáticas circunstâncias naturais, tais como uma luta de vida ou morte.
A humanidade se encontra no primeiro ponto, a razão, mas nem todo ponto de aglutinação dos seres humanos fica exatamente na posição da razão. Aqueles que estão exatamente em seu próprio ponto são os verdadeiros líderes da humanidade. Na maior parte do tempo, pessoas desconhecidas cujo gênio é exercitar sua razão.
A humanidade passou a parte mais longa de sua história na posição do conhecimento silencioso, e isso explica nosso grande anseio por ele.
Apenas um ser humano que seja um modelo da razão pode mover seu ponto de aglutinação com facilidade e ser um modelo do conhecimento silencioso.
Apenas aqueles que estavam exatamente em qualquer das posições podiam ver a outra posição com clareza, esta foi a maneira pela qual a idade da razão veio a existir. A posição da razão era vista claramente da posição do conhecimento silencioso.
A ponte de mão única do conhecimento silencioso para a razão era chamada “concernência”. Isto é, a concernência que os verdadeiros homens do conhecimento silencioso tinham acerca da fonte do que conheciam. E a outra ponte de mão única, da razão para o conhecimento silencioso, era chamada “entendimento puro”. Isto é, o reconhecimento que revelou ao homem da razão que a razão era apenas uma ilha num mar infinito de ilhas.
Um ser humano que tenha as duas pontes de mão única funcionando era um feiticeiro em contato direto com o espírito, a força vital que fazia ambas as posições possíveis.
O espírito apenas ouve quando o discurso é feito através de gestos, que não significam sinais ou movimentos corporais, mas atos de abandono verdadeiro, atos de liberalidade, de humor. Como um gesto para o espírito, os feiticeiros trazem o melhor de si e em silêncio oferecem-no ao abstrato.
Os feiticeiros contavam suas vidas em horas, em uma hora era possível ao feiticeiro viver o equivalente em intensidade a uma vida normal. Essa intensidade é uma vantagem quando se trata de armazenar informação num movimento do ponto de aglutinação. O ponto de aglutinação, mesmo com o deslocamento mais diminuto, cria ilhas totalmente isoladas de percepção. A informação na forma de experiência na complexidade da consciência pode ser armazenada ali. A informação é armazenada na própria experiência. Mais tarde, quando um feiticeiro move seu ponto de aglutinação ao local exato onde estava, revive a experiência total. Essa recordação dos feiticeiros é a maneira de recuperar toda a informação armazenada no movimento do ponto de aglutinação.
Intensidade é um resultado automático do movimento do ponto de aglutinação. Por exemplo, você está vivendo esses momentos com mais intensidade do que o faria ordinariamente; assim, propriamente falando, você está armazenando intensidade. Algum dia você irá reviver esse momento fazendo seu ponto de aglutinação retornar ao local preciso onde está agora. Essa é a maneira dos feiticeiros armazenarem informação.
A intensidade, sendo um aspecto do intento, está conectada naturalmente ao brilho dos olhos dos feiticeiros. Para relembrar essas ilhas isoladas de percepção, os feiticeiros necessitam apenas intentar o brilho particular de seus olhos associados com a localização à qual desejem regressar.
Porque sua taxa de intensidade é maior do que o normal, em poucas horas um feiticeiro pode viver o equivalente a uma vida normal inteira. Seu ponto de aglutinação, mudando para a posição não familiar, absorve mais energia do que o normal. Esse fluxo extra de energia é chamado intensidade..
A experiência dos feiticeiros é tão bizarra que os feiticeiros a consideram um exercício intelectual, e usam-na para espreitar-se. Seu trunfo como espreitadores, entretanto, é que permanecem agudamente conscientes de que são os perceptores de que a percepção tem mais possibilidades do que a mente pode conceber.
Para proteger-se daquela intensidade os feiticeiros aprendem a manter uma mistura perfeita de implacabilidade, astúcia, paciência e doçura. Essas 4 bases estão inexplicavelmente interligadas. Os feiticeiros cultivam-nas intentando-as. Essas bases são, naturalmente, posições do ponto de aglutinação.
Qualquer ato executado por qualquer feiticeiro era por definição governado por esses 4 princípios. Assim falando propriamente, cada ação de cada feiticeiro é deliberada em pensamento e realização, e tem a mistura específica dos 4 fundamentos da espreita.
Os feiticeiros usam as 4 disposições da espreita como guias. Trata-se de 4 estruturas mentais diferentes, 4 mesclas distintas de intensidade que os feiticeiros podem usar para introduzir seus pontos de aglutinação a se moverem a posições específicas.
Nossa racionalidade nos coloca entre uma pedra e um lugar rijo. Nossa tendência é ponderar, questionar, esclarecer. E não há como fazer isso na disciplina da feitiçaria. Ela é o ato de atingir o lugar do conhecimento silencioso, e o conhecimento silencioso não pode ser raciocinado. Pode ser apenas experimentado.
Os feiticeiros, num esforço para se protegerem do avassalador efeito do conhecimento silencioso, desenvolveram a rte de espreitar. A espreita move o ponto de aglutinação diminuta mas firmemente, propiciando, desse modo, tempo aos feiticeiros e, portanto, a possibilidade de se escorarem.
Na arte de espreitar há uma técnica que os feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura controlada é a única maneira que têm de lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.
A loucura controlada é a arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação – fingindo tão bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.
A loucura controlada é uma arte que causa muitas preocupações, e muito difícil de se aprender. Muitos feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para exerce-la.
Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade – que ele disse ser basicamente tortuosa e mesquinha – simplesmente não tinha agilidade necessária para praticar a loucura controlada.
Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está formada e tudo que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.
Os espreitadores que praticam a loucura controlada acreditam que, em questão de personalidade, a raça humana inteira entra em três categorias. Os espreitadores acham que não somos tão complexos como pensamos ser e que todos pertencemos a uma das três categorias. As pessoas da primeira classe são os secretários perfeitos, assistentes, companheiros. Têm uma personalidade muito fluida, mas sua fluidez não é nutrida. São, entretanto, serviçais, preocupados, totalmente domésticos, dispõem de recursos dentro de certos limites, são bem-humorados, têm boas maneiras, são doces e delicados. Em outras palavras, são as pessoas mais simpáticas que alguém pode encontrar, mas têm uma enorme falha: não conseguem funcionar sozinhas. Estão sempre necessitadas de alguém para dirigi-las. Com direção, são perfeitas, não importando quão difícil ou antagônica essa direção possa ser. Entregas a si mesmas, perecem.
As pessoas da segunda classe não são nem um pouco simpáticas. São mesquinhas, vingativas, invejosas, ciumentas, autocentradas. Falam exclusivamente sobre si mesmas e em geral esperam que as pessoas se enquadrem em seus padrões. Sempre tomam a iniciativa mesmo quando não se sentem confortáveis com ela. Ficam profundamente desconfortáveis em qualquer situação e nunca relaxam. São inseguras e nunca conseguem ser agradadas; quanto mais inseguras se tornam, mais desagradáveis ficam. Sua falha fatal é que matariam para ser líderes.
Na terceira categoria estão as pessoas que não são simpáticas nem desagradáveis. Não servem e não se impõem a ninguém. Antes, são indiferentes. Têm uma idéia exaltada acerca de si mesmas derivada unicamente de divagações de pensamento desejoso. Se são extraordinárias em alguma coisa, é em esperar que as coisas aconteçam. Estão esperando ser descobertas e conquistadas e têm uma maravilhosa facilidade para criar a ilusão de que têm grandes coisas em suspenso, que sempre prometem liberar mas nunca fazem porque, na verdade, não dispõem de tais recursos.
Não existe combinação. Todos nós estamos aprisionados numa dessas três categorias para a vida toda, sem esperança de mudança ou redenção, exceto que permanecia um caminho para a redenção. Os feiticeiros haviam há muito tempo aprendido que apenas nossa auto-reflexão pessoal caía numa das três categorias.
O problema conosco é que nos tomamos a sério. Independente da categoria na qual se encaixa nossa auto-imagem, isto só importa por causa da nossa auto-estima. Se não fossemos tão auto-importantes, não importaria nem um pouco em qual categoria entraríamos.
Recapitulando os cernes básicos discutidos: as manifestações do espírito, o assalto do espírito, as artimanhas do espírito, a descida do espírito, os requisitos do intento e o manejo do intento.
Para o nagual Julian, a auto-estima era um monstro de três mil cabeças. E o indivíduo podia encara-lo em qualquer uma das três maneiras. A primeira delas era cortar uma cabeça de cada vez; a segunda era alcançar aquele misterioso estado de ser chamado o lugar da não-piedade, que destruía a uto-estima, matando-a lentamente à míngua; e a terceira era pagar com a própria morte simbólica pela aniquilação instantânea do monstro de três mil cabeças.
O nagual Julian recomendou a terceira alternativa. Mas avisou a Don Juan que poderia se considerar um afortunado se tivesse oportunidade de escolher, pois era o espírito que em geral determinava de que modo o feiticeiro deveria ir, e era dever do feiticeiro seguir.
Don Juan disse que, como me guiara, seu benfeitor o guiara para cortar as três mil cabeças da auto-estima uma por uma, mas que os resultados foram muito diferentes.
O homem possui um lado escuro, sim, e é chamado estupidez.
A consciência humana é como uma imensa casa mal-assombrada. A consciência da vida cotidiana é como estar trancado num quarto daquela imensa casa para a vida toda. Entramos no quarto através de uma abertura mágica: o nascimento. E saímos através de outra dessas aberturas mágicas: a morte. Os feiticeiros, entretanto, eram capazes de encontrar ainda outra abertura e conseguiam deixar aquele quarto fechado enquanto ainda vivos. Uma realização soberba. Mas sua realização mais impressionante é que, quando escapam daquele aposento selado, escolhem a liberdade. Preferem deixar aquela casa imensa mal-assombrada inteiramente em vez de ficarem perdidos em outras partes dela.
A morbidez é a antítese da onda de energia que a consciência necessita para alcançar a liberdade. A morbidez faz os feiticeiros perderem o caminho e ficarem aprisionados nos becos intrincados e escuros do desconhecido.
A companhia de um nagual é muito cansativa. Produz uma estranha fadiga, podendo mesmo ser injuriosa, o que é relativo porque Castañeda não sentia isso em relação a Don Juan.
Don Juan aconselhava-o a não pensar a respeito dos cernes básicos, mas sim fazer seu ponto de aglutinação se mover na direção do lugar do conhecimento silencioso. Mover o ponto de aglutinação é tudo, mas não significa nada se não for um movimento sóbrio e controlado. Portanto, feche a porta da auto-reflexão. Seja impecável e terá a energia para atingir o lugar do conhecimento silencioso.

Período de maturação, de restauras energias.
Caminho à plenitude e ao bem-estar
Disciplina, perseverança.
Consciência, espreita, intenção.

Em estado de consciência intensificada, não podia deixar de maravilhar-me com o sentimento de que um véu tivesse sido removido de meus olhos, como se eu estivesse parcialmente cego antes e agora pudesse ver. A liberdade, a pura alegria que me possuíam nessas ocasiões não podem ser comparadas com nenhuma outra coisa que jamais tenha sentido. Entretanto, ao mesmo tempo, havia uma assustadora sensação de tristeza e saudade que vinha de mãos dadas com aquela alegria e liberdade. Don Juan tinha dito que não se pode ser completo sem tristeza e saudade, pois sem tais coisas não existe sobriedade, nem benevolência, e conhecimento sem sobriedade é inútil.
Exercitar o autocontrole e ser capaz de canalizar minhas atividades para metas pragmáticas, que irão beneficiar o homem em geral.
Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo a permitir que poupem parte da energia que dispedem. A lista estratégica cobre apenas padrões de comportamento que não são essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar. Nas listas estratégicas dos guerreiros, a vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de energia. Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela energia para poder encarar o desconhecido com ela. A ação de recanalizar aquela energia é a impecabilidade.
Cinco elementos da espreita: controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade (para os que lutam para perder a vaidade). O sexto elemento é o pequeno tirano: um atormentador, alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre os guerreiros ou simplesmente os perturba levando-os à distração. O que transforma os seres humanos em pequenos tiranos é a manipulação obsessiva do conhecido.
Como é engenhoso e eficiente o artifício de usar um pequeno tirano! A estratégia não apenas elimina a vaidade, como também prepara os guerreiros para a compreensão final de que a impecabilidade é a única coisa que conta no caminho do conhecimento.
O guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro afortunado.
O 1º passo é a decisão de tornar-se aprendiz. Depois que os aprendizes mudam sua visão sobre si mesmos e sobre o mundo dão o 2º passo e tornam-se guerreiros, ou seja, seres capazes de extrema disciplina e autocontrole. O 3º passo, depois de adquirirem paciência e senso de oportunidade, é tornar-se um homem de conhecimento. Quando homens de conhecimento aprender a ver, dão o 4º passo, tornando-se videntes. Os atributos de controle e disciplina referem-se a um estado interior. Um guerreiro é auto-orientado, não de modo egoísta, mas no sentido de um exame total e contínuo de si mesmo.
Paciência e oportunidade não são realmente um estado interior. Estão no domínio do homem de conhecimento.
A idéia de usar um pequeno tirano não serve apenas para aperfeiçoar o espírito do guerreiro, mas também para diversão e feliciade. Mesmo os piores tiranos podem trazer encanto, naturalmente desde que a pessoa seja um guerreiro. O engano que os homens comuns cometem ao se confrontarem com pequenos tiranos é não possuírem uma estratégia que os apóie; a falha fatal é que os homens comuns levam-se demais a sério; suas ações e sentimentos, assim como as ações e sentimentos dos pequenos tiranos, são de suma importância. Os guerreiros não apenas têm uma estratégia bem elaborada, como estão livres da vaidade. O que restringe sua vaidade é que eles compreenderam que a realidade é uma interpretação que fazemos.
Os pequenos tiranos levam-se mortalmente a sério, ao contrário dos guerreiros. Pode-se derrotar alguns pequenos tiranos usando apenas essa simples percepção.
Qualquer homem que tenha o pingo de orgulho dilacera-se quando o fazem sentir desvalorizado.
“Eu fazia tudo o que ele me pedia com satisfação. Era alegre e forte. Não me importava com meu orgulho ou meu medo. Ali estava com um guerreiro impecável. Dominar o espírito quando alguém está pisando em você chama-se controle. Em vez de sentir pena de si mesmo, recomenda-se trabalhar, anotando os pontos fortes do homem, suas fraquezas, as características de seu comportamento. Juntar informações acerca dos pontos fortes dos pequenos tiranos enquanto é atacado chama-se disciplina. Segundo os novos videntes, um pequeno tirano perfeito não tem qualquer aspecto positivo.
Paciência é esperar calmamente – sem pressa, sem ansiedade. Trata-se de um simples e alegre adiamento do que é devido.
Saber que está se esperando e saber pelo que se está esperando, é aí que está a grande alegria do guerreiro.
A estratégia consiste em embaraçar sistematicamente o pequeno tirano, obtendo uma proteção de ordem superior, um escudo.
O sentido de oportunidade é a qualidade que governa a liberação de tudo o que está contido. Controle, disciplina e paciência são como um dique por trás do qual tudo é represado. O sentido de oportunidade é a abertura do dique.
Em momento algum senti pena de mim mesmo ou chorei de impotência. Permaneci alegre e sereno.
Paciência significa reter com o espírito algo que o guerreiro sabe que, por justiça, deve fazer. Isto não significa que um guerreiro saia por aí planejando causar prejuízos a alguém ou acertar contas passadas. A paciência é algo independente. Desde que o guerreiro tenha controle, disciplina e sentido de oportunidade, a paciência assegura dar o que se deve a quem quer que o mereça.
Os novos videntes usavam pequenos tiranos não apenas para livrar-se de sua vaidade, mas também para realizar a manobra muito sofisticada de se deslocar para fora deste mundo (domínio da consciência).
Todos os que se juntam ao pequeno tirano são derrotados. Agir com raiva, sem controle e disciplina, não ter paciência, é ser derrotado.
Depois que os guerreiros são derrotados eles ou se reagrupam ou abandonam a busca de conhecimento e juntam-se às fileiras dos pequenos tiranos por toda vida. Uma das maiores forças nas vidas dos guerreiros é o medo. Ele estimula-os a aprender.
Os guerreiros preparam-se para ser conscientes e a consciência plena só chega quando não há mais vaidade neles. Apenas quando são nada tornam-se tudo.
A vaidade é a força motivadora de todos os ataques de melancolia.
Os guerreiros podem ter profundos estados de tristeza, mas a tristeza está presente apenas para faze-los rir.
Vontade – intenção – nova ordem
No caminho do guerreiro qualquer guerreiro pode ser bem-sucedido com as pessoas desde que desloque seu ponto de aglutinação para uma posição em que se torna indiferente se as pessoas gostam dele, não gostam ou ignoram.
A maneira de mover os pontos de aglutinação é estabelecer novos hábitos, faze-los deslocarem-se pela vontade. A única maneira de lidar com guerreiros insuperáveis é não ter vaidade, para poder louva-los com o espírito aberto.
O deslocamento do ponto de aglutinação não está ligado a uma explosão emocional, mas à ação. A compreensão emocional chega anos depois que os guerreiros já consolidaram, pelo uso, a nova posição de seus pontos de aglutinação.
São necessários anos para tornar-se um guerreiro impecável. Para suportar o impacto do impulso da terra, você precisa ser melhor do que agora.. a rapidez do impulso irá dissolver tudo em você. Sob seu impacto, tornamo-nos nada. Velocidade e sentido de existência individual não combinam.
O alinhamento é a passagem secreta, e o impulso da terra é a chave.
Estava consciente, entretanto, de tudo ao meu redor por meio de uma capacidade ao mesmo tempo estranha e extremamente familiar. A visão do mundo veio a mim de uma só vez. Tudo em mim via; a totalidade do que eu, em mim de uma só vez. Tudo em mim via; a totalidade do que eu, em minha consciência normal, chamo de meu corpo era capaz de sentir como se fosse um enorme olho que detecta tudo.
A posição do ponto de aglutinação é tudo, o mundo que ele nos faz perceber é tão real que não deixa espaço para nada além da realidade. O mundo desaparece no ar quando um novo alinhamento total nos faz perceber outro mundo total.
O alinhamento é uma força única porque ou ajuda o ponto de aglutinação a se deslocar, ou o mantém agarrado à sua posição costumeira. O aspecto do alinhamento que mantém o ponto estacionário é a vontade; e o aspecto que o faz mudar é a intenção. Um dos mistérios mais assombrosos é como a vontade, a força impessoal do alinhamento, se transforma em intenção, a força personalizada, a serviço de cada indivíduo. A parte mais estranha deste mistério é que a mudança é tão fácil de realizar, mas o que não é tão fácil é convencer a nós mesmos que isso é possível. É aí que reside nossa segurança. Temos de ser convencidos. E nenhum de nós quer sê-lo.
Deslocar o ponto de aglutinação de sua localização natural e mantê-lo fixo em nova localização é estar adormecido; com a prática, os videntes aprendem a estar adormecidos e ainda assim atuar como se nada acontecesse com eles.
Relaxar os músculos, silenciar o diálogo interno, golpear-se suave mas firmemente em seu lado direito, entre a anca e a caixa torácica. Depois disso ver-se profundamente adormecido, num estado extremamente peculiar de sonho. O corpo fica dormente, mas se encontra perfeitamente consciente de tudo que acontece.
O derrubador é uma força das emanações da águia. Uma força incessante, que nos atinge a cada instante de nossas vidas. É letal quando vista, mas de outro modo não a percebemos em nossa existência ordinária, porque temos escudos protetores. Temos interesses absorventes, que ocupam toda a nossa existência. Estamos permanentemente procupados com nosso status e nossas propriedades. Esses escudos protetores não mantêm o derrubador afastado, simplesmente nos impedem de vê-lo diretamente, protegendo-nos de sermos feridos pelo pavor de ver as bolas de fogo atingindo-nos. Os escudos são uma grande ajuda e um grande obstáculo para nós. Acalmam-nos e ao mesmo tempo nos enganam. Dão-nos uma falsa sensação de segurança.
Chegará um momento em minha vida em que ficaremos sem qualquer escudo, o tempo todo à mercê do derrubador. Este é um estágio obrigatório na vida de um guerreiro, conhecido como a perda da forma humana.
Espíritos criados por Deus com inteligência e leis referenciais, somos, de início, como que teleguiados pelos instintos que devemos ir sublimando no esforço transformador das sensações no rumo dos sentimentos. E nessa viagem, que ora nos convida ao repouso e ora nos estimula a prosseguir, perpassamos por desafios emocionais que se desordenam pelos impactos, emergidos dos registros que estão no inconsciente profundo dou por interligações espirituais externas a que, invigilantemente, nos submetemos como vítimas em provas que devem vencer só vencendo-se.
A essa vitória somente se sedimentarão a medida que nos dediquemos ao autoconhecimento.
Cada um de nós, seres humanos, tem duas mentes. Uma é totalmente nossa, e é como uma voz fraca que sempre nos traz ordem, integridade, propósito, é o produto de todas as nossas experiências, aquela que raramente fala porque foi vencida e relegada à obscuridade A outra mente é a mente que usamos diariamente para tudo o que fazemos, é uma instalação forânea. Nos traz conflito, auto-afirmação, dúvidas, desesperança.
Nossas mesquinharias e contradições são o resultado de um conflito transcendental que atinge cada um de nós, mas que somente os feiticeiros são dolorosa e irremediavelmente conscientes dele: o conflito entre as nossas duas mentes.
Resolver o conflito das duas mentes é uma questão de intenta-lo. Os feiticeiros chamam o intento quando pronunciam a palavras intento em voz forte e clara. Intento é uma força que existe no universo. Quando os feiticeiros chamam o intento, ele lher chega e prepara o caminho para as suas realizações, isso significa que os feiticeiros sempre concretizam aquilo a que se propõem.
Pode-se chamar o intento para qualquer coisa, mas os feiticeiros descobriram, a duras penas, que o intento só vem a eles para algo que é abstrato. Essa é a válvula de segurança dos feiticeiros; de outra forma eles seriam insuportáveis. Chamar o intento para resolver o conflito entre as duas mentes não é uma questão mesquinha nem arbitrária. Pelo contrário, é um assunto etéreo e abstrato, mas tão vital como qualquer outra coisa.
Em relação à coleção de eventos memoráveis: a seleção do que colocar no seu álbum não é coisa fácil. Essa é a razão pela qual eu disse que fazer esse álbum é um ato de guerra. Você deve refazer a si mesmo mais de dez vezes a fim de saber o que selecionar. Os eventos memoráveis do álbum de um xamã são assuntos que sobreviverão à prova do tempo porque não têm nada a ver com ele, embora ele esteja no meio deles. E estará sempre no meio deles, durante toda a vida, talvez até além dela, mas não de maneira pessoal.
Os feiticeiros dizem que em cada explicação há um pedido de desculpas escondido.

Por: Mariana Carvalho

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